História sobre as águas de Pernambuco

Antônio Assis
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Olinda e Recife eram constantemente ameaçados e foram invadidos por corsários antes desses fortes terem sido construídos. Então, o Picão foi muito importante na defesa do EstadoFoto: Coleção de Jaques Ribemboim/cortesia

Renata Coutinho
Folha-PE

Apagado da paisagem, resgatado pela História. Ícone de brasões, mas perdido pela tradição. Esses são alguns paradoxos que cercam um dos principais símbolos pernambucanos, o Forte do Picão. O litoral recifense, que se orgulha de muitas das suas edificações, acabou desmerecendo em nome do progresso, no início do século 20, esta que foi uma das mais importantes construções de proteção da cidade. Rememorar o papel de destaque desta fortificação foi o tema central de um estudo do pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Jacques Ribemboim. O material, que virou o livro “Um forte sobre as águas”, será lançado nesta segunda-feira, às 17h, no Porto Ferreiro.
“Nas origens, este forte junto com o de São Jorge - onde hoje fica a Igreja do Pilar- foram os defensores de Pernambuco contra piratas, corsários, nações inimigas e invasores em geral. Olinda, que era uma vila, e o povoado do Recife, eram constantemente ameaçados e, inclusive, foram invadidos por corsários ingleses em 1595 antes desses fortes terem sido construídos. Então, o Picão foi muito importante na defesa de Pernambuco”, comentou Jacques Ribemboim.

O pesquisador destacou que, à época da construção, que data da primeira metade dos anos 1600, a edificação foi a solução encontrada pelos portugueses para a proteção do território. Localizado bem na entrada do porto, em cima dos arrecifes e cercado por pedras pontiagudas, antes de Picão, foi inaugurado com o nome de São Jorge. Tomado pelos holandeses, em 1630, passou a se chamar Castelo do Mar e, depois da expulsão dos estrangeiros, ganhou o nome de Forte da Lagem.

Apenas no século 19 é que passou a denominação de Picão. “Ao que tudo indica o nome era por conta das pedras semissubmersas que ficavam ao lado dele e que cortavam e picavam cascos dos navios. Por isso, na maré baixa, era muito perigosas para embarcações”, explicou.

A construção foi naquele tempo motivo de orgulho e identidade do Estado. Estampava os primeiros mapas, fotografias, cartões postais e filme feitos em Pernambuco. Sua importância também foi destacada na confecção do brasão do Estado, em 1895. Apesar de enaltecido, o Forte do Picão sucumbiu em 1910. Depois de quase 300 anos salvaguardando o litoral da Capital, foi demolido durante as obras de modernização do porto do Recife. Mesmo no chão, a fortificação também estampa o brasão do Recife, criado 20 anos depois.

O pesquisador narrou que, em 1930, se fez um concurso para o desenho do brasão da Cidade. A disputa foi vencida por Baltazar da Câmara e Mario Melo, que resgataram o farol na imagem. Não se sabe ao certo o que motivou a dupla, mas o pesquisador tem algumas hipóteses. “Talvez pela estima ao patrimônio do Estado, eles tenham colocado propositadamente para se perpetuar a imagem do forte. Ou quem sabe com o intuíto de um dia motivar alguém a reerguê-lo”, especulou.

Certa é a sensação de espanto que Jacques Ribemboim exprime no livro diante da destruição de um bem cultural tão importante. “Chama muita atenção que o forte foi destruído, apesar de sua importância histórica para Pernambuco. É difícil se encontrar uma nação, um estado que derruba monumentos que estão nas bandeiras e nas armas. Nós fizemos isso”, lamentou.

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