Seis praças do Recife são candidatas a se tornar patrimônio mundial

Antônio Assis
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A praça da República (incluindo os jardins do Palácio do Campo das Princesas), em Santo Antônio, está entre as obras-primas de Burle Marx
Foto: Ed machado

Marcos Toledo
Folha de Pernambuco

No ruge-ruge da metrópole, se há algo dissonante é a paisagem (e seus detalhes), elemento que exige o apuro do mais distrativo dos sentidos: o olhar. Desafio para gênios da arte da urbanização, que em momentos únicos da história desconstroem essa tendência perversa para a própria a evolução - e preservação - da humanidade e criam obras de arte que sobrepujam o tempo e o espaço. 

No dia a dia pode até lhe passar em branco, mas o Recife possui um patrimônio de intervenção natural, no caminho da escola para casa, ou de casa para o trabalho, que reflete essa genialidade: os jardins idealizados ou reformados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994). E esse legado pode estar prestes a se tornar oficialmente patrimônio mundial reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

A possibilidade está sendo apresentada esta semana durante o 2º Seminário Internacional Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultural México/Brasil, realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco e a Universidade Federal de Pernambuco, que acontece até quinta-feira (23), com palestras e workshop. O evento também marca o lançamento do segundo volume do projeto Cadernos, do CAU/PE, que, não por acaso, tem o título “Cidade-Paisagem”.

Para apresentar a candidatura de seis das praças de Burle Marx no Recife como patrimônio mundial está na Capital o arquiteto mexicano Saúl Alcántara, membro votante do Comitê Internacional de Paisagens Culturais da Unesco. 

Na terça (21), o especialista visitou duas das obras mais marcantes idealizadas pelo saudoso paisagista: a praça de Casa Forte, primeiro de todos os projetos de jardins públicos de Burle Marx, de 1934, localizada na Zona Norte do Recife, cidade natal de sua mãe; e a praça Euclides da Cunha (defronte ao Clube Internacional), no bairro da Madalena (área central da Cidade), de 1935, projeto em que o também artista plástico buscou livrar os jardins de impressão europeia introduzindo o espírito brasileiro em um espaço ornamentado com plantas do Agreste e do Sertão nordestinos.

“Seus jardins são declarados patrimônio cultural do Brasil e deveriam passar a ser patrimônio mundial, porque têm valores universais”, explicou Alcántara. “Burle Marx é um gênio da paisagem universal do século 20, que deu início a sua carreira profissional, acadêmica e científica no Recife. Aqui ele concebeu o jardim tropical e moderno”, lembrou.

Além das praças de Casa Forte e Euclides da Cunha, integram o pleito à categoria de patrimônio mundial a da praça da República (incluindo os jardins do Palácio do Campo das Princesas), no bairro de Santo Antônio, e a do Derby, na área central; a Faria Neves (em frente ao Parque Estadual Dois Irmãos), na Zona Oeste; e a Ministro Salgado Filho (no acesso ao aeroporto), no Ibura (Zona Sul), todas já tombadas, há cerca de dois anos, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Em 2016 ocorreu nova etapa no processo de valorização de áreas públicas projetadas por Burle Marx: além das praças já citadas, outras nove receberam da Prefeitura do Recife a classificação de jardim histórico, o que impede que qualquer um desses espaços sofra intervenção sem autorização prévia.

Paulista de nascimento, de ascendência alemã-recifense, Burle Marx deixou sua marca na Capital em mais de uma dezena de jardins - sem contar as obras particulares. Chegou inclusive a exercer o cargo de diretor de Parques e Jardins do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco. Sua relação com a Cidade agora está prestes a ser eternizada não apenas aqui, mas em todo o mundo.

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